[AINDA] MAIS PODRES DO QUE NUNCA
por Luísa Bittencourt / publicado na revista Em Cartaz de agosto
Formada em 1982, na cidade de Mauá, no ABC Paulista, o Garotos Podres é uma das poucas bandas que viveram a origem do punk no Brasil e que ainda resistem na ativa. Depois do clássico Mais Podre do Que Nunca, lançado em 1985, vieram sete discos, participações em mais de dez coletâneas nacionais e internacionais e em shows que entraram para a história do punk. Entre 2012 e 2017, o grupo passou a se chamar O Satânico Dr. Mao e os Espiões Secretos, devido a imbróglios jurídicos por conta de uma briga entre os integrantes. Hoje, já de volta com o nome Garotos Podres, a banda voltou aos palcos e faz um show único no dia 18 de agosto, no Centro Cultural da Juventude. O vocalista Mao conversou um pouco com a gente. Confira!
O período com o Satânico Dr. Mao e os Espiões Secretos acabou significando o que na história do Garotos Podres?
“Em 2012, houve um racha no Garotos Podres. Quando ocorreu esta dissidência, eu e o guitarrista planejávamos continuar a usar o nome. Para todos, isso parecia óbvio, já que eu era o único remanescente da formação original, além de ser compositor da maioria das letras e músicas. Entretanto, os outros integrantes que saíram, associados ao nosso antigo empresário, tentaram apoderar-se do nome, e isso assumiu uma gravidade peculiar, já que eles passaram a ter posições políticas de direita e a usar o nome da banda na campanha para vereador do ex-baixista. Para evitar existir duas bandas com o mesmo nome, eu e o guitarrista resolvemos assumir uma “identidade secreta”. Surgiu assim O Satânico Dr. Mao e os Espiões Secretos. No final de 2014, o intento daqueles senhores naufragou e, no final de 2017, eles desistiram de seu projeto musical. A partir de então, nós do O Satânico Dr. Mao e os Espiões Secretos resolvemos revelar a nossa verdadeira identidade secreta! Voltamos a ser o que sempre fomos: Garotos Podres.
Vocês lançaram o disco Canções de Resistência, agora de volta como Garotos Podres. Vocês são um “novo” Garotos Podres?
“Acho que o retorno do Garotos Podres com o compacto #Canções de Resistência# representa a continuidade da luta e o compromisso da banda com a causa dos trabalhadores, agora novamente resistindo contra um Estado de exceção.”
Quais foram as influências que vocês receberam?
“Surgimos no auge do movimento punk em São Paulo e nossas principais influências musicais são, até hoje, o punk rock do final dos anos 70, a Oi music e o Ska!”
Depois de tantos anos de banda e de mudanças na cena musical brasileira, hoje qual é o público de vocês?
“Desde o início da banda, o nosso público sempre ultrapassou a cena punk. De uma maneira geral, creio que nossos fãs sempre foram aqueles que se identificam com nossas letras. Para nós, a música sempre foi uma forma de dar ritmo às nossas ideias.”
É verdade que Papai Noel Noel Velho Batuta foi a última música censurada pela Ditadura Militar?
“No nosso primeiro álbum Mais Podres do Que Nunca – (1985), tivemos duas músicas censuradas: Johnny e Vou Fazer Cocô. Papai Noel Velho Batuta não chegou a ser censurada, pois mudamos a letra de “Filho da Puta” para “Velho Batuta”. A última música censurada no Brasil foi Batman, de nosso álbum Pior Que Antes (1988). Era uma música do Submundo, uma antiga banda que eu toquei em 1981/82. A Polícia Federal resolveu “proibir a execução pública” desta música e a gravadora na época entrou com recurso. Nisso, os censores resolveram aumentar a restrição, proibindo que a canção entrasse no álbum. A gravadora recorreu à instância superior e nosso recurso foi julgado no dia 4 de outubro de 1988. Eles mantiveram a “proibição de execução pública”. O curioso é que, no dia seguinte, entrava em vigor a atual Constituição, que extinguiu a censura prévia e, na prática, o próprio Departamento de Censura. Em outras palavras, fomos autores da última música censurada no Brasil.”
Algumas músicas de vocês viraram trilha sonora de filmes, curtas e documentários. Quando será lançado o documentário da história do Garotos?
“Somos uma banda que tem 36 anos de existência. Acho que merecemos um documentário próprio. Fica aí a dica para os produtores (risos).”
Os integrantes da banda têm empregos paralelos?
“Desde o início da banda, ninguém conseguiu viver dela. Acho que o fato de nenhum de nós não depender financeiramente da banda é que garantiu a nossa sobrevivência por tantos anos. Eu (Mao) sou professor de história, Uel é professor de contrabaixo e dirige um estúdio (Blast Sound), Deedy (guitarrista) é jornalista e Tony Karpa (baterista) também é professor de música.”
Como vocês definiriam a cena punk hoje? E o rock nacional, de maneira geral?
“Estamos diante de um momento em que as liberdades democráticas estão seriamente ameaçadas e muitos direitos históricos dos trabalhadores estão caindo por terra. Vejo com grande preocupação o fato de muitos músicos estarem vinculados a esta corrente conservadora. Ao que parece, muitos abandonaram a postura contestadora e progressista que tinham na juventude. Mesmo no âmbito do punk rock, podemos notar isso. Alguns –felizmente poucos– se influenciaram por esta onda conservadora. Outros se calam diante das injustiças. Nesse sentido, nós procuramos ser coerentes com a nossa trajetória. Nos posicionamos contra a escalada autoritária que avança em nosso país. Nos solidarizamos com a luta dos trabalhadores por seus direitos e pela democracia. Nos colocamos incondicionalmente solidários à causa da emancipação do Proletariado!”
Apresentação: Centro Cultural da Juventude – Anfiteatro, no dia 18 de agosto, às 20h. Grátis!
O Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso está localizado na Avenida Deputado Emílio Carlos, 3641, Vila Nova Cachoeirinha – a 20 minutos do Terminal Barra Funda e ao lado do Terminal Cachoeirinha. Siga a gente em facebook.com/CCJuventude e Instagram e Twitter @ccjuventude.
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